domingo, 12 de agosto de 2012

A vacina anti-prazer...



     A vida constitui-se em nascer, crescer, talvez multiplicar essa vida e depois morrer. Entre nascer e morrer existe uma imensa e incerta abertura de parênteses, que pode ser fechada antes do nascimento, alguns minutos depois dele, ou muito tempo depois.
Se ocorrer o terceiro caso com algum indivíduo provindo da raça humana então criamos um problema para este que teve a chance de deixar de ser muito tempo depois do seu nascimento, pois entre um e outro é preciso preencher a vida com alguma atividade que faça valer a pena ter começado tudo apenas para terminar.
     Esse grande branco, que se chama futuro e atividade pode enlouquecer a muitos e a outros nem tanto. O que acontece é que a capacidade de raciocinar do homem faz ele adquirir certos vícios, aliás, faz ele adquirir apenas um vício: o da procura incessante pelo prazer. Este vício origina todos os outros.
     O prazer envolve tudo,afinal, não basta comer, é necessário gostar do que se come, não basta beber, é necessário saborear o que se bebe até a última gota, por causa disso há muitas pessoas que não gostam de beber, porque não dá prazer, mas continuam a bebê-la porque é necessário. Não queremos trabalhar porque é preciso, mas, maquiamos a desgastante rotina com a desculpa de que devemos fazer o que gostamos e buscar nossos sonhos. E o que é buscar um sonho senão uma nova palavra e significado para o prazer.
     Procuramos amor, carinho e às vezes simples noites de “prazer” que é outro nome para sexo, que por conseguinte é uma forma de conseguir prazer, perdoem-me a redundância mas veja que o texto está andando em círculos desde o começo por uma causa justa.
Algumas pessoas procuram edificação espiritual para se tornar melhores, o processo de tornar-se em algo melhor precisa ser de alguma forma alegre, se não, o processo não se concluirá. Já dizia um dos escritores do Novo Testamento: “Regozijai-vos em vossas tentações e tribulações, porque sois provados para serem aprovados.”
       Perceba que o nosso escritor pede para que os fiéis sintam prazer na angústia, para que tudo o que eles fizeram até agora na tentativa de conseguir o famoso galardão celeste, não se torne uma tentativa em vão.
O comentário que eu gostaria de fazer era simplesmente este: O vazio da alma que procuramos fechar nunca irá se fechar. Algumas pessoas acreditam que esse vazio pode ser fechado para sempre se fizermos escolhas certas, mas isto não é verdade, vou dar exemplos acerca dessa minha posição:
  1. Uma pessoa que procura prazer em relacionamentos sérios na forma de um verdadeiro amor não cobre com terras de emoção o seu constante desejo, pois, se ao final da procura, ela acha a “pessoa certa” que irá suprir a sua necessidade sentimental e depois de um tempo esta pessoa não supre mais essa necessidade a mesma retorna ainda mais voraz, isto é, se o amor “eterno” se acabar, surgira algo que chamamos simplesmente de dor, que na verdade é a mistura de uma infinidade de desejos, entre eles: O desejo de que aquilo não tivesse acontecido, o desejo de não ter conhecido o indivíduo e por fim o desejo de ter a necessidade sentimental preenchida novamente.
  2. Uma pessoa que procura cura para suas mágoas na religião, a maioria das vezes ouve dos líderes religiosos que a sua necessidade de felicidade finalmente seria sanada. Todavia se este que procura alívio pra alma deixar futuramente a religião, o líder então dirá que o ex-fiel não vai experimentar mais da verdadeira felicidade. Mas antes ele não diria que a felicidade seria finalmente encontrada? E porque ela acabaria? Pode a verdadeira felicidade acabar? Talvez a resposta para o líder seja não, pois, a verdadeira felicidade precisa ser primeiramente encontrada pelo fiel na conclusão de todo o processo de santificação, e esse final de processo de santificação pode se chamar de Nirvana, Salvação e et cetera. Concluindo, o fim da necessidade pela procura de desejo de um fiel não acaba quando ele se converte, ou quando ele entra em processo de iniciação dos mistérios de determinada religião, embora seja isso que ele queira, e isso que a maioria dos líderes prometa, isso não acontece de verdade. Se isso ocorresse de verdade na ocasião da saída do fiel do seu grupo religioso ele não sentiria mais necessidade de saciar mais nenhum pois a obra redimidora teria se concluído e o ser agora se tornaria em uma criatura completa em si mesmo.
    Em outras palavras não existe a vacina anti-desejo, a felicidade verdadeira não é uma força que fará você se nunca mais ter dor, ou nunca mais precisar de carinhos ou vitórias, pois se fosse assim ela seria a vitória completa e não precisaríamos de outra coisa para preencher uma necessidade que não existiria mais.
    A verdadeira felicidade conclui-se simplesmente na procura. Quando percebermos que viver bem conclui-se na procura de uma vida melhor e não no que essa procura resulta talvez tenhamos menos problemas com vícios, indiferenças e desavenças

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