domingo, 19 de agosto de 2012

O falso-antipatriotismo



     Xingar o Brasil é comum, muito comum, é o que mais se faz todos os dias, trabalhadores liberais, políticos, homens e mulheres de todos os credos e "raças" fazem isso e, acredito eu, boa parte dos cidadãos do mundo tem algum motivo para xingar seu país de origem. 
    Essa é uma atitude tão comum e tão insignificante que a primeira vista não é necessário tecer um comentário sobre ela, todavia, um bando de adolescentes que não tem nada a fazer além de ficar o dia inteiro na internet me levou a fazer o que antes me demonstrava exitante para por em prática. 
      O meu colega blogueiro Profeta Rocker do blog A Bíblia do Rock já fez um artigo falando sobre isso no tocante aos programas governamentais do PT, e outro artigo falando sobre cultura em geral cujo link eu não estou encontrando no momento. 
     A linha de pensamento que uma pessoa "antipatriota" segue é tão simples e medíocre que às vezes me dá uma certa ânsia de vômito ao ouvir as suas ladainhas. 
    Primeiramente todo "antipatriota" tem a ilusão de que todos os outros países são melhores que o dele, esta linha de pensamento pode as vezes ser ambígua, por exemplo, este que vos escreve acompanha de perto os processos de lutas sindicais pela educação, os líderes sindicais sempre repetem os mesmos chavões em uníssono: "Lá em Cuba", "Lá na Coréia", "Lá nos Estados Unidos". É deveras cansativo ficar ouvindo essas frases clichês de protestos, que no fundo estão corretas, afinal, em outros países a educação é vista como prioridade, já pela natureza tecnológica e acadêmica que eles tem. Coréia e EUA principalmente estão há anos no mercado tecnológico e precisam de mentes pensantes e criativas para comandar e suprir a demanda. 
     O antipatriota não cita os chavões anteriormente citados como modelos, que é o significado original para todos eles, apenas um modelo. Ele simplesmente repete como um papagaio de pirata para os quatro cantos da terra ouvirem que na Coréia tem isso, nos EUA tem aquilo, e o Brasil é um enxerto oriundo das entranhas de uma vaca. E o pior de tudo, essas citações deixam transpassar na voz de quem a fala a sua própria ignorância, pois estes falam das necessidades tecnológicas, educacionais e culturais do seu país como se fossem um lixo e como se não tivessem solução, e como se quem fala não tivesse nada haver com o que está acontecendo e nada pode fazer para mudar isso tudo. 
   O falso patriota rejeita as manifestações culturais, não compra produtos nacionais, não assiste a programas nacionais e se detêm muito tempo em construir críticas sem um fundamento lógico e fatos fundados para sanar as suas necessidades de criar frases clichês para relatar suas picuinhas com o seu país de origem. 
   Vamos a uma lista do que os falsos patriotas fazem e depois exibir uma linha de raciocínio para desarticular suas triviais reclamações: 
      1) "A cultura brasileira é uma merda, somos um país colonizado por portugueses, fundado no genocídio de povos e escravidão, não devemos homenagear nossos colonizadores, não devemos ouvir a música brasileira pois ela não tem identidade própria e não vamos curtir o carnaval pois é uma festa de pobre": Palmas para essa construção digna de um nerd reprimido da quarta série de um colégio para garotos superdotados. É verdade, nosso país não tem uma origem lá tão bonita, nossa história é cheia de sangue e escravidão, todavia, chorar por causa da cor do nosso sangue e de parte do nosso progresso ser fundada pela escravidão e assassínio de índios não vai resolver. Dizer que a nossa cultura é pobre por causa da miscigenação de povos é um argumento facilmente refutável. 
   Primeiramente, é fácil ver na história de países que tiveram a sua cultura formada sem "misturas", resquícios de uma mentalidade retrograda, por exemplo, em alguns países europeus com cultura teoricamente cristã e algumas sobras da cultura dos povos bárbaros vemos o que pode se chamar de uma verdadeira mentalidade retrógrada. Por exemplo, na Hungria ainda temos picuinhas políticas relacionadas com o antigo mito da raça ariana e o nazismo. Na Irlanda do Norte até 1998 os católicos e protestantes além de diversos outros problemas que tiveram, ainda não perceberam que lá é todo mundo igual. 
     No país mais cultuado pela cultura antipatriótica, os EUA, podemos claramente ver que a cultura deles não vem de um povo único, mas de diversos grupos como os afro-americanos, os italianos, japoneses, ingleses e etc. A cultura dos EUA é tão miscigenada quanto a nossa o Rock, o  Blues, o Jazz, o Gospel, gêneros musicais cultuados por "antipatriotas" metidos a espertos foram formados através da mistura das culturas negras com a cultura anglo-européia. Apesar de um muito miscigenada, os brancos anglo-americanos, demonstram historicamente suas atitudes retrógradas que não demonstram nem um pouco de evolução: ao mandato de abolição da escravatura por Abraham Licoln os americanos se dividiram e entrarão em guerra civil, vencido esse ponto até a década  de 1960 os negros não possuíam direitos civis no país "mais evoluído do mundo", vencido este ponto, ainda hoje existem protestos de grupos racistas como o Ku Klux Klan nesse país. 
    Voltemos ao nosso país, os negros foram mal tratados aqui sem dúvida, mas a evolução cultural desta classe no país, ao menos politicamente, não foi tão conturbada como nosso vizinho da América do Norte, a libertação foi tardia mas sem guerras civis, quando despontou a instauração da república os homens negros já tinham direito a voto em 1930 ou até mesmo antes (não ocorreu o mesmo para as mulheres infelizmente).  
     A cultura brasileira enriqueceu-se de uma maneira valorosa graças a influência dos africanos, racismos a parte, o chorinho (ritmo claramente influenciado pelas religiões africanas), o samba e etc, são até hoje referenciados no mundo todo com status de "música erudita". 
     No tocante a literatura, alguns podem reclamar que apesar de não temos a chamada literatura de massa, sendo que nem preciso falar da literatura brasileira dita intelectualóide pois essa já é explanada nas salas de aula do ensino fundamental ao ensino médio.  
     Um movimento tardio de literatura de massa está ocorrendo no Brasil graças a internet, em 2010 por exemplo tivemos a aparição de um romance brasileiro de literatura de massa no top-semanal de best-sellers da revista Veja: A Batalha do Apocalipse de Eduardo Sphor. As manifestações culturais todo falso "hater" odeia, mas quando está no meio de um chafurdo de pessoas batendo o pé e cantarolando o novo sucesso do Latino. 
Oi oi oi! Kuduro, oi oi oi!
     Quando lhe oferecem um prato de baião de dois, acarajé, ou qualquer outra comida típica nacional, ninguém odeia o país certo? 
       E seu sotaque, seu idioma? Conte-me como é ouvir um Coreano falar e entender tudo o que ele está dizendo e falar com sua mãe em outras línguas que ela não vai entender, e mesmo assim viver bem?    
                                                      
     2) "O Brasil é uma droga, todos os políticos são ladrões e roubam o povo, e eles também não fazem nada, a educação é uma porcaria, o povo brasileiro não tem cultura, são todos burros só eu sou inteligente, a tecnologia nem se fala, minha banda larga é uma porcaria...": A primeira frase que identifica o nosso amado grupo haters até que era bonitinha, contudo, esta demonstra toda a infantilidade e falta de conhecimento dos falsos antipatriotas. 
     Primeiramente, o que dá tanta certeza aos falsos antipatriotas que os políticos de nosso país são todos corruptos? Francamente, se todos os políticos do nosso país fossem corruptos, a realidade da nação seria outra. É certo que existem uma porção de canalhas que fazem isso e aquilo para acabar com o país e eu nem preciso dizer o nome. Mas quem coloca esses canalhas no poder? O povo. Correto? E por que mesmo sabendo que esses corruptos são o que são, o povo continua a dar o poder a eles? Existem N fatores, e um dos mais discrepantes de todos eles seria a história do "rouba mas faz", isto é, o ladrão pode até ser um ladrão mas como ele faz alguma coisa, merece o mandato. 
    Esses acontecimentos não são culpa dos políticos, mas culpa do povo, os políticos não vão ensinar ao povo o bem e o mal em detrimento de sua classe, o povo deve correr atrás do conhecimento, é necessário investir, é verdade. Mas não são essas pessoas que reclamam de tudo que dizem ser "intelectuais", pois elas, eu e você também, temos o dever de dividir o conhecimento com aqueles que julgamos com menos conhecimento, se é pra evitar o mal, se é para querer um país melhor (se é que os antipatriotas querem isso), então devemos parar de votar nulo e começar a fazer alguma coisa que realmente seja um protesto, ou muito mais que isso. 
     Depois falo um pouco mais de política, agora vamos falar da educação e tecnologia: Fazem quantos anos que o Brasil tenta se desenvolver tecnologicamente e educacionalmente? Mais ou menos cinquenta. Até a década de 50, nosso país era completamente agrário, não era necessário para o governo investir em educação, afinal educação era coisa de rico e quem podia pagava para estudar. Mas a crescente demanda exigiu que os ensinos básicos, profissionais e superiores fossem instaurados no país, para ricos e para pobres, afinal, você acha mesmo que os ricos vão ter piedade dos pobres incondicionalmente? Não sejamos idealistas. A tecnologia no país não era necessária, afinal, há cinquenta anos atrás ninguém ou quase ninguém podia comprar Iphones, Ipads, Iralho a quatro. A tecnologia e educação são novidades, novidades exigidas por demanda de progresso, quem sabe um dia a gente se equipara aos outros países nesse quesito. 
    Para finalizar, dizer que todo brasileiro é burro, é uma tremenda de uma burrice. Temos um batalhão de médicos, engenheiros, escritores, músicos, em formação e já formados que foram grandes no passado, são grandes hoje e também serão no futuro, eu por exemplo conheci um físico que trabalhou até pouco temo no CERN, e ele é cearense (nordestinos tem estigma de povo burro, um baita preconceito). Os brasileiros não são burros, alguns deles, apenas não tem as ferramentas necessárias para se desenvolver o suficiente para se tornarem tão grandes quanto outros aí que vemos pelo mundo afora.   
    3) "Não gosto do meu país, vou morar em outro!":  Essa é a frase mais básica de um falso ante patriota, para este minha argumentação mais básica: "Só quando se perde algo é que percebemos o real valor daquilo que se perdeu..." 

      Em suma o falso-antipatriota é na verdade um patriota enrustido que tem tanto samba no pé quanto um brasileiro que não reclama tanto quanto ele. Querendo ou não, ele terá uma afeição por sua terra natal e adquirirá todos os trejeitos daquele que ele mesmo rejeita... 

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